sábado, 9 de fevereiro de 2008

Qual é a importância da história da filosofia para a Filosofia?

A história da filosofia é importante para o próprio desenvolvimento da Filosofia.

Sem o conhecimento dos argumentos e erros dos filósofos anteriores, não poderia haver avanço e progresso na Filosofia. Os problemas que os filósofos desde Sócrates procuraram resolver, são ainda hoje, na sua maioria, os mesmos que os filósofos discutem actualmente, mas sem o conhecimento dos argumentos dos filósofos anteriores, não poderia haver progresso na Filosofia. A Filosofia progride através de um aperfeiçoamento dos argumentos na resposta ao problema proposto, no sentido em que os argumentos X respondem melhor ao problema do que os argumentos Y.
Por outro lado, sem esse conhecimento, a Filosofia arriscava-se a ser uma repetição de erros passados.
Muitos filósofos desenvolvem as suas próprias teorias a partir dos erros dos filósofos anteriores. As teorias são tentativas de resposta aos problemas filosóficos e muitas teorias são aperfeiçoadas a partir de argumentos de filósofos anteriores.
No entanto, história da filosofia e Filosofia não são a mesma coisa. A história da filosofia limita-se a enunciar aquilo que os filósofos afirmaram acerca de determinados problemas, dizendo que o filósofo x disse y. A Filosofia, por sua vez, é a análise e crítica daquilo que os filósofos afirmaram e a construção de novos argumentos a partir dessa crítica argumentativa.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

A utilidade da Filosofia

Os filósofos “examinam crenças que quase toda a gente aceita acriticamente a maior parte do tempo.”
Este é sem dúvida um dos grandes contributos da Filosofia. A maior parte das pessoas vive “enredada” em crenças e preconceitos que admite convictamente serem verdadeiros, mas não admite a sua análise e discussão crítica, o que é um erro muito grave e com sérias consequências na vida dessa pessoa e na vida de todos nós. Não aceitar a crítica das suas ideias e crenças é viver a vida sem orientação, como um barco sem vela que se lança ao mar revoltado, em que o mais certo é ficar destruído com a força das ondas. Esta destruição corresponde à ruína da própria vida, porque se orienta apenas por aquilo que os outros dizem (como as ondas do mar em relação ao barco), sem pensar por um pouco que seja, se isso que lhe dizem é o mais correcto.
Não questionar as suas ideias e preconceitos reflecte-se negativamente na sociedade, concretamente, em más decisões, em más leis, em más instituições e em maus hábitos sociais e costumes. Aceitar as críticas e repensar as suas ideias é estar a contribuir para a construção de um mundo melhor, mais civilizado, mais justo e mais unido.
A Filosofia “desenvolve uma capacidade para argumentar de forma coerente sobre um vasto leque de temas”.
A Filosofia ajuda-nos a responder aos problemas das mais variadas áreas, como a Filosofia da Religião, a Ética, a Estética, a Filosofia do Conhecimento ou Epistemologia, a Filosofia Política, a Filosofia do Direito, a Ontologia ou Metafísica, entre outras. Mas a Filosofia não nos ajuda apenas a saber responder e a justificar problemas filosóficos, ajuda-nos também a argumentar sobre qualquer outro problema de outra área que se nos depare, como “o direito, a informática, a consultoria de gestão, o funcionamento público, o jornalismo, o cinema”, entre outras.
Esta capacidade revela-se muito frutuosa e útil para o nosso quotidiano, porque permite -nos apresentar uma justificação lógica e coerente acerca de qualquer problema que nos seja colocado por outra pessoa, seja um amigo, um familiar ou um estranho. Concluindo, aquela pessoa que se interesse por Filosofia fica capacitada com certos instrumentos lógicos de raciocínio que lhe permitem justificar outros problemas para além dos problemas tipicamente filosóficos.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

O valor da Filosofia

«O valor da filosofia encontra-se, de facto, na sua própria incerteza. O homem sem rudimentos de filosofia passa pela vida encarcerado nos preconceitos derivados do senso comum, das crenças habituais do seu tempo ou da sua nação, e de convicções que se desenvolveram no seu espírito sem a cooperação ou o consentimento da sua razão ponderada. Para tal homem, o mundo tem tendência a tornar-se definido, finito, óbvio; os objectos comuns não levantam questões, e as possibilidades estranhas são desdenhosamente rejeitadas.

Mal começamos a filosofar, pelo contrário, descobrimos (...) que até as coisas mais corriqueiras levantam problemas a que só podemos dar respostas muito incompletas. A filosofia, apesar de ser incapaz de nos dizer com certeza qual é a resposta verdadeira às dúvidas que levanta, tem a capacidade de sugerir muitas possibilidades que alargam os nossos pensamentos e os libertam da tirania do hábito. Assim, apesar de diminuir a nossa sensação de certeza quanto ao que as coisas são, a filosofia aumenta em muito o nosso conhecimento do que podem ser; elimina o dogmatismo algo arrogante daqueles que nunca viajaram no território da dúvida libertadora, e mantém vivo o nosso sentido de deslumbramento ao mostrar coisas familiares sob um aspecto estranho.»

RUSSELL, Bertrand, Os Problemas da Filosofia, 1912, p. 90.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

O que é o pensar filosófico? Como surge?

O pensar filosófico não é um campo de pensamento estranho ou misterioso. Não é verdade que apenas algumas pessoas possam pensar filosoficamente. Toda e qualquer pessoa já pensou e pode pensar filosoficamente, desde que já tenha procurado justificar ou se esforçado mentalmente para encontrar uma resposta para um determinado problema filosófico. A grande diferença reside em “como pensar” acerca de um problema filosófico, sendo neste “como pensar” que se encontra um dos grandes contributos da Filosofia: a maioria das pessoas não sabe organizar uma linha de raciocínio lógica e coerente para responder a um problema filosófico.

O pensar filosófico emerge naturalmente das circunstâncias humanas. Podemos afirmar que existe pensar filosófico desde que existe a humanidade: o Homem pela sua natural predisposição para o saber, sempre se questionou acerca de si próprio, dos outros e de tudo aquilo que o rodeia. É neste sentido, que o Homem desde sempre colocou a si próprio questões filosóficas, como por exemplo, “Como é que os seres da minha espécie surgiram à face da Terra?”, o mesmo é dizer actualmente, “Como surgiu o ser humano?”, “Como surgiu toda esta extensão de terra na qual me encontro?”, o mesmo é dizer agora, “Como surgiu o Universo?”, e por aí em diante. O pensar filosófico surge a partir do momento em que eu começo a questionar as coisas que me rodeiam e cuja solução ou resposta me apercebo que não posso encontrar na experimentação, que dizer, tocando, cheirando ou simplesmente observando-as, entre outras modalidades possíveis de experiência empírica.

Quer isso dizer que, a maior parte das pessoas já pensou sobre alguma das questões filosóficas. Ao pensar num problema filosófico já procurou obter uma resposta para ele e, neste sentido, todos nós podemos de certa maneira ser considerados “filósofos”. Mas pensar sobre um problema filosófico não é propor uma resposta e dizer que ela é a única que pode ser verdadeira, devendo-se antes aceitar a crítica e outra possível justificação ao mesmo problema com vista ao seu melhoramento: De outro modo, não se está a fazer Filosofia.

Estrutura do discurso argumentativo

Problema - Teoria 1

¯ ¯

Argumento 1 Argumento 2 - Contra-argumento ao argumento 2

¯

Argumento 3

¯

Teoria 2

Apresenta-se em cima um esquema simplificado de como funciona a metodologia de trabalho filosófico na sua tentativa de responder a um problema filosófico. Verifica-se que a crítica (pela apresentação de contra-argumentos, contra-exemplos,...) desempenha um papel fundamental no progresso da filosofia (construção de novos argumentos, enunciação de novas teorias,...)

EX Problema Filosófico:

Será que Deus existe?

Três respostas possíveis: Sim – Resposta do Teísta.

Não – Resposta do Ateu.

Não Sei – Resposta do Agnóstico.

Teoria: Deus existe

Dois argumentos a favor da existência de Deus:

Se Deus não existe, então o mundo não foi criado.

O mundo foi criado.

\Deus existe.


Argumento do Desígnio (Argumento Teleológico)

Tudo na Natureza está apropriado à função que desempenha.

Tudo revela sinais de ter sido concebido.

\ Existe um Criador.

Teoria: Deus não existe.

Dois argumentos a favor da não existência de Deus

Se Deus existe, a vida tem sentido.

A vida não tem sentido.

\ Deus não existe.

Deus é o Criador do Universo

Deus é um Ser Omnipotente e Sumamente Bom.

O mundo está repleto de mal e sofrimento.

\ Deus não existe.